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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Homo sapiens conviveu com neandertais no Oriente Próximo

De Hershkovitz et al. Nature
Estudos genômicos de neandertais e de Homo sapiens milenares e contemporâneos sugerem que as duas espécies se miscigenaram em algum lugar do Oriente Médio há entre 50 mil e 60 mil anos.


Um crânio incompleto de 55 mil anos encontrado em Israel pode pertencer a um grupo humano que se miscigenou com neandertais.

Descoberto por espeleólogos amadores nas profundezas de uma caverna, o crânio parcial preenche uma grande lacuna no registro fóssil da jornada que levou o Homo sapiens da África à Europa.

“O que estamos segurando aqui é, de fato, o crânio de um humano que vivia ao lado de neandertais”, comemora Israel Hershkovitz, o líder de um estudo publicado em 29 de janeiro em Nature (I. Hershkovitz et al. Nature http://dx.doi.org/10.1038/nature14134; 2015).

“Potencialmenteesse grupo é o único que poderia ter se miscigenado com os neandertais”, argumenta Hershkovitz, um antropólogo físico na Universidade de Tel Aviv, em Israel.

Estudos genômicos de neandertais (Homo neanderthalensis) e de H. sapiens milenares e contemporâneos sugerem que as duas espécies se miscigenaram em algum lugar no Oriente Médio há entre 50 mil e 60 mil anos (Q. Fu et al. Nature514, 445–449; 2014).

O problema dessa teoria é que até hoje nunca foram encontrados vestígios de humanos anatomicamente modernos desse período crucial no Oriente Médio; ou seja, depois de H. sapiens migrar da África, mas antes de colonizar a Europa e Ásia.

Em 2008, uma máquina de terraplenagem que trabalhava em uma área destinada à construção de um novo assentamento, perto Mar da Galileia, no norte de Israel, expôs a entrada para uma caverna de calcário selada há mais de 15 mil anos.

Espeleólogos amadores foram os primeiros a explorar o local, e avistaram o danificado osso, a coroa ou parte superior de um crânio, repousando em uma saliência rochosa.

Logo em seguida, a Autoridade de Antiguidades de Israel empreendeu um levantamento completo da caverna Manot e descobriu ferramentas de pedra enterradas em vários lugares, que ainda estão sendo escavados.

De acordo com Hershkovitz, o crânio é inquestionavelmente de H. sapiens, sendo similar em forma aos de humanos mais primitivos da África e aos de europeus mais tardios.

Uma pátina de calcita revestia o fragmento, e os pesquisadores usaram urânio radioativo no mineral para datar o osso com aproximadamente 55 mil anos.

Isso significa que “os habitantes de Manot provavelmente são os ancestrais das primitivas populações paleolíticas da Europa”, sugere Hershkovitz.

As pessoas de Manot também são cotadas como importantes candidatas para os humanos que se miscigenaram com neandertais; cruzamentos que deram a todos os humanos não-africanos atuais uma porção de herança neandertal.

A caverna Manot não fica longe de dois outros sítios paleoantropológicos que abrigavam remanescentes neandertais de idade similar.

“O sul do Levante é o único lugar em que humanos anatomicamente modernos e neandertais conviveram lado a lado por milhares e milhares de anos”, sustenta Hershkovitz.

A prova definitiva seria procurar pela presença de ancestralidade neandertal no DNA do crânio, mas as temperaturas amenas da região significam que é improvável que DNA tão antigo tenha sido preservado.

Jean-Jacques Hublin, um paleoantropólogo no Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária em Leipzig, na Alemanha, reconhece que as chances de recuperar DNA do fragmento craniano são reduzidas. Mas espera que o prosseguimento das escavações revele outros restos humanos que permaneceram suficientemente frios para ainda conter DNA.

Talvez, as escavações também conectem o fragmento craniano a ferramentas de pedra e outras relíquias da vida cotidiana locais, o que poderia fortalecer a associação do crânio de Manot a europeus primitivos.

Acredita-se que os artefatos recuperados até agora sejam muito mais recentes que o crânio.

“Temos um crânio e um sítio com alguma arqueologia, mas não há nenhum elo entre o crânio e a arqueologia. Isso é um pouco irritante”, confessa Hublin.

“Esse espécime é realmente importante e empolgante, presumindo que a datação esteja correta, à medida que mostra, pela primeira vez, que humanos modernos viveram no Oriente Próximo na mesma época dos neandertais”, opina Katerina Harvati, uma paleoantropóloga na Universidade de Tübingen, na Alemanha.

Até agora não tínhamos sequer evidências de que os dois coexistiram nessa região durante esse período de tempo. Portanto, essa é uma peça fundamental do quebra-cabeça”.

 

Este artigo é reproduzido com permissão e foi publicado originalmente em 28 de janeiros de 2015

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