Nas pequenas vilas do Nordeste o povo saia assustado de casa: falava-se no fim do mundo.
No telefone, nervoso, o prefeito de uma pequena cidade do norte do Ceará, insistia em falar com o governador César Cals: era urgente, urgentíssimo. Em Ibiau, sudoeste da Bahia, o prefeito Hildebrando Nunes mandava um comunicado urgente à 6.ª Região Militar.
Na estrada para Feira de Santana, o trânsito parou: filas enormes de caminhões de cargas, carros particulares e centenas de motoristas de olho no céu.
No Ceará, dois aviões Xavante, da FAB, levantaram vôo para uma missão incomum; perseguir um estranho objeto que tanto podia ser azul ou vermelho, conforme a hora que cortava os céus do nordeste, numa longa viagem para o sul.
São algumas histórias de discos voadores. Em fevereiro de 1974 eles foram vistos em cinco estados - Bahia, Pernambuco, Ceará, Piauí, Alagoas - durante três horas. E todos contaram quase a mesma história: era um objeto de forma oval, que mudava de cor e tamanho, com um brilho tão forte que queimava a vista.
Tribuna do Ceará, primeira página: "Objeto luminoso deixa a cidade em pânico". Como a Tribuna, quase todos os jornais de Fortaleza esgotaram cedo nas bancas: todo mundo queria detalhes sobre a viagem do estranho objeto que subiu nos céus da cidade às 18h 30m de um Domingo de fevereiro de 1974.
Nos bairros mais nobres, o OVNI foi recolhido como um sinal do fim do mundo: assustado, o povo saía de casa e corria em direção à rua. Logo que o objeto apareceu, os dois aviões da FAB levantaram vôo, mas regressaram à base pouco depois: o OVNI havia sumido.
Os telefones das redações dos jornais de Fortaleza tocaram a noit
O depoimento dos que viram: era um objeto de forma oval, ora parecia como uma lua cheia, ora bem maior. Enredava do amarelo para o vermelho, para o azul, para o verde.
Em Teresina, muita gente saiu às ruas entre 19 e 19h 30m para ver o objeto "que cortava o céu da cidade irradiando uma luz muito branca. Tinha quarenta centímetros de diâmetro e desapareceu na direção norte, deixando uma nuvem esbranquiçada".
O astrônomo Cláudio Pamplona, do Observatório Hercel Eistein, que no momento da aparição estava na fundação de Meteorologia e Chuvas Artificiais, acha que o fenômeno foi causado por um bólido, isto é, um meteoro explosivo.
Isso - segundo ele - acontece quando um meteoro entra na atmosfera, num ângulo aproximado da linha vertical, ganhando uma velocidade muito grande que provoca a sua explosão.
Normalmente, explicou, o bólido deixa um rastro de ionização, fragmentos de sua desintegração. Neste caso específico, "observou-se um rastro que durou dez minutos, perto da constelação de Carneiro, um pouco ao sul do planeta Marte".
Em Feira de Santana, Bahia, o astrônomo Augusto César Orrico, do Observatório de Antares, desde a aparição tornou-se um homem sem sossego: todos queriam ver as fotos que ele tirou do objeto que viajou pelos céus da cidade durante trinta minutos.
Augusto César usou um filme de 400 asas, mas as fotos
não ficaram nítidas.
Orrico tinha duas hipóteses para explicar o fenômeno: o ingresso de um satélite artificial na atmosfera ou a explosão de uma estrela. Ele disse que o objeto foi observado por centenas de pessoas em Feira de Santana: no começo, parecia uma estrela fixa de Segunda grandeza, soltando uma luz muito branca; depois aumentou de tamanho, passando a soltar uma luz azul, para finalmente, dividir-se em duas nuvens que se desintegraram.
No Recife, Nélia Noronha Pimentel, 17 anos, estudante do Colégio São João, voltava para casa no bairro da Várzea quando descobriu o OVNI. Correu para casa e poucos minutos depois, o bairro inteiro estava na rua, acompanhando a viagem do disco. Durante três minutos, ele sobrevoou o bairro, crescendo de tamanho para depois desaparecer, deixando uma sombra azul no espaço.
Em Caruaru, a 130 quilômetros de Recife, muita gente conta que também viu o disco: ele ficou parado durante muito tempo sobre o céu da cidade, com um brilho intenso.
Em Limoeiro, 80 quilômetros a noroeste do Recife, o comerciante Inácio Roberto Queiroz disse que "viu o sinal luminoso no céu às 18h 5m, com uma cauda de grande luminosidade". O padre holandês Jorge Polman, do Colégio São João Recife, desmentiu a opinião do astrônomo Augusto César, da Bahia:
"não era um satélite artificial. E tampouco a explosão de uma
estrela."
Em Viçosa, a 92 quilômetros de Maceió, João Guedes, técnico em eletrônica, estava trabalhando quando viu o objeto aparecendo por "trás de uma nuvem branca": João foi uma das pessoas que ligaram para as redações dos jornais de Maceió dando a notícia da passagem do OVNI por Alagoas.
Em Maceió, o objeto começou a ser observado depois das 18 horas e foi visto durante muito tempo no bairro do Farol, na rua Pará e avenida Fernades Lima. No Colégio São José, o padre Sarmento contava às freiras como tinha visto o disco, "de forma oval, brilhando como uma grande estrela".
(Jornal da Tarde - Fevereiro 1974)
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