Estudos comprovam existência da telepatia, mas cientistas refutam
Em 2012, o jornalista Steven Volk ficou surpreso ao saber que o célebre psicólogo cético, Richard Wiseman admitiu que as evidências que comprovam a existência da telepatia são tão boas quanto “as requeridas pelos padrões de qualquer outra área da ciência; [por isso, a telepatia] está comprovada”. Em continuidade, o sr. Volk escreveu: “Mais incrível ainda, conforme relatei em Fringe-ology, é que Chris French, outra pesquisadora cética, concorda com ele”.
O sr. Volk provavelmente ficaria mais surpreso ainda se soubesse que, em 1951, o psicólogo Donald Hebb escreveu o seguinte:
“Por que não aceitar o fenômeno da PES [percepção extra-sensorial] como um fato na psicologia? [The Rhine Research Center] forneceu evidências suficientemente convincentes sobre a PES em praticamente todos os aspectos… Pessoalmente, ainda não aceito a PES, pois não faz sentido para mim. Os critérios que adoto, tanto da física como da fisiologia, afirmam que a PES não pode ser um fato, apesar de relatos de evidências desse fenômeno. Eu não vejo que outra razão meus colegas teriam para não aceitar a PES que não essa… Rhine pode estar certo, embora eu ache improvável; minha rejeição a seu ponto de vista é, literalmente, um preconceito”.
Quatro anos mais tarde, George Price, então pesquisador associado ao Departamento de Medicina da Universidade de Minnesota, publicou um artigo na prestigiosa revista Science, que começa assim:
“Os que acreditam em fenômenos psíquicos… ao que parece, conquistaram uma vitória decisiva, que praticamente calou a oposição… Essa vitória é o resultado da cuidadosa experimentação e argumentação inteligente. Dezenas de pesquisadores obtiveram resultados positivos em experiências envolvendo PES e os procedimentos matemáticos que empregaram foram validados por renomados estatísticos… Contra tantas evidências, a única defesa que resta ao cientista cético é ignorar”.
Porém, Price argumentou, “PES é incompatível com as teorias da ciência atual”, e perguntou: “Se a parapsicologia e a ciência moderna são incompatíveis, porque então não rejeitar a parapsicologia?… A escolha é acreditar em algo que é ‘realmente revolucionário e contradiz radicalmente o pensamento contemporâneo’ ou acreditar na ocorrência de fraudes e auto-ilusão. O que é mais razoável?”
Portanto, temos aqui dois céticos que efetivamente admitem que, se isso fosse em qualquer outro campo de investigação, esses dados experimentais já teriam sido aceitos desde a década de 1950.
Assim como Hebb e Price, antes deles, Wiseman e French afirmaram que comprovar a telepatia é algo tão extraordinário que requer um nível de evidência muito maior que o normalmente requerido. Por que deve ser assim? A maioria das pessoas acredita na existência da telepatia baseadas na própria experiência. Elas ficam intrigadas quando caracterizamos a telepatia como algo “extraordinário”.
É mais intrigante ainda quando pesquisas mostram que boa parte dos cientistas aceita a possibilidade da telepatia existir. Duas pesquisas, uma que entrevistou mais de 500 cientistas e outra que entrevistou mais de mil, mostraram que a maioria dos pesquisados considerou a PES “um fato estabelecido” ou “uma possibilidade provável” – 56% em uma e 67% na outra.
Pesquisas como essas sugerem que a maioria dos cientistas são curiosos e de mente aberta no que se refere a fenômenos da psique. Mas esse não parece ser o caso em uma área: a da psicologia. No estudo anterior, só 3% dos cientistas de áreas das ciências naturais consideraram a PES “uma impossibilidade”, enquanto, comparativamente, 34% dos psicólogos disseram o mesmo.
Atualmente, os mais conhecidos céticos no que se refere a capacidades psíquicas – Wiseman, French, James Alcock, Susan Blackmore e Ray Hyman, entre outros – são psicólogos. Uma exceção é o biólogo Richard Dawkins, mas, como Wiseman e French, ele também está entre os que disseram que a existência da telepatia colocaria “as leis da física de ponta-cabeça”.
Não condiz com outras áreas da ciência?
O psicólogo James Alcock escreveu recentemente que as afirmações da parapsicologia “desafiam a visão de mundo da ciência moderna. Isso por si só não significa que a parapsicologia está errada, porém, de acordo com o que o eminente neuropsicólogo Donald Hebb assinalou, se as afirmações da parapsicologia forem um fato, então, a física, a biologia e a neurociência estão radicalmente erradas em seus aspectos fundamentais”.
No entanto, nem Alcock, Hebb, Wiseman, assim como French, nunca se preocuparam em explicar como as afirmações da parapsicologia “desafiam” a ciência ou as razões, com base na “física e fisiologia, que levam a dizer que o PES não é um fato”.
Sem dúvida, é raro um cético sustentar suas afirmações com exemplos específicos. Como mostro em meu novo livro “Science and Psychic Phenomena (Ciência e Fenômeno Psíquico)”, nas raras ocasiões que fizeram isso, eles invariavelmente invocaram princípios da física clássica, que são conhecidos como fundamentalmente incorretos a, pelo menos, três quartos de século.
No entanto, um bom número de expoentes no campo da física, como Henry Margenau, David Bohm, Brian Josephson e Olivier Costa de Beauregard têm repetidamente colocado que nada na mecânica quântica impede a ocorrência de fenômenos psíquicos. Costa de Beauregard inclusive sustenta que a teoria da física quântica praticamente exige a existência de fenômenos psíquicos. O físico Evan Harris Walker desenvolveu um modelo conceitual de psique com base na formulação da mecânica quântica de von Neumann.
O argumento de Ray Hyman, de 1996 (em Skeptical Inquirer), de que a aceitação de fenômenos da psique exigiria “abandonar a relatividade e a mecânica quântica em suas formulações atuais”, mostra-se absurdo. Contrastando com a declaração de Hyman, o físico teórico Costa de Beauregard escreveu: “a mecânica quântica relativista é um esquema conceitual em que fenômenos como a psicocinese ou a telepatia, longe de ser irracionais, devem, ao contrário, ser considerados como muito racionais”.
Como mencionado, a adesão a uma metafísica científica ultrapassada parece prevalecer muito mais entre os psicólogos que entre os físicos. Céticos, como a psicóloga Susan Blackmore, gostam de dizer que a existência de fenômenos da psique é incompatível “com a nossa visão científica de mundo” – mas com qual visão de mundo científica?
Fenômenos da psique são certamente incompatíveis com a antiga visão de mundo científica baseada na mecânica newtoniana e na psicologia behaviorista, porém não é incompatível com a emergente visão de mundo baseada na mecânica quântica, na neurociência e na psicologia cognitiva.
Antes mesmo da mecânica quântica começar a substituir a mecânica clássica, na década de 1920, muitos físicos estavam muito mais abertos a investigar fenômenos psíquicos do que a maioria dos psicólogos demonstra hoje. Um número surpreendente de renomados físicos do século 19 manifestou interesse em pesquisas sobre a psique, entre eles, William Crookes, inventor do tubo de raios catódicos usado em televisores e monitores de computador, J.J. Thomson, que ganhou o Prêmio Nobel em 1906 pela descoberta do elétron, e Lord Rayleigh, considerado um dos maiores físicos do final do século 19 e ganhador do Prêmio Nobel de Física em 1904.
É claro que, por seus esforços em investigar esses e outros fenômenos incomuns, esses homens foram criticados e ridicularizados impiedosamente por seus colegas.
Mas a física moderna é muito diferente da física clássica do século 19; já é tempo de psicólogos céticos perceberam isso. O renomado psicólogo Gardner Murphy, presidente da American Psychological Association e posteriormente da American Society for Psychical Research, pediu a seus colegas psicólogos para que se conhecessem melhor a física moderna.
Murphy escreveu em 1968: “… a dificuldade está no nível da física, não no nível da psicologia. Psicólogos ficam um pouco confusos quando se deparam com os físicos modernos que encaram os fenômenos prontamente e, de fato, consideram-nos de modo muito mais sério que os psicólogos; os psicólogos não agem como os físicos, que abandonaram o modelo newtoniano de distribuição de energia, a lei do quadrado-inverso e outras coisas que os cientistas costumavam estar fortemente apegados… os psicólogos provavelmente testemunharão um período de lenta, mas definitiva, erosão desse tipo de atitude exclusivista que se apresenta como a única atitude cientificamente apropriada nesse campo. Os dados da parapsicologia certamente serão integrados harmoniosamente aos princípios gerais da psicologia e serão assimilados muito mais facilmente dentro da estrutura sistemática da psicologia como ciência uma vez que a imaginária adequação da física newtoniana for colocada de lado e substituída pela física moderna”.
Chris Carter estudou na Universidade de Oxford e é autor de “Science and Psychic Phenomena: The Fall of the House of Skeptics” (Inner Traditions).
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